domingo, 4 de junho de 2023

3 de janeiro 2012



senti a brisa de frente fria,
em um violão voando à cabeça.

apaguei o palheiro.

durante o mesmo instante
facto e ato, longe entre si
 as mãos
e com isso, uma dor imensa.

olhei pro chão
[o objeto]
em pena sentimental.

 Domingo 04/06/23


Às veras com a razão e o coração.

Não sei o que se passa, disso resolvido na razão, do tipo, tá bom, é isso e eu não quero mais nada mesmo. Nem sequer tenho vontade e, muito menos, esperança de uma volta milagrosa. Sério mesmo, não quero mesmo. É pior que a doutora de Coimbra. Deus me livre... e livrou!!!

Mas meu coração diz outra coisa. Essa semana rezei em súplica. Acho que nunca tinha feito isso, assim, com tanta ênfase. Pedi:

- Deus, me dá um sinal, eu quero amar, acho que sou digno já. Tenho sofrido tanto há mais de um ano. Quero conhecer alguém, começar uma história, quem sabe formar uma família.

A tarde ela me manda um oi no zap e eu me entrego novamente. 

Digo da gente e do surreal dos tempos. Que ela tem que viver isso com o carfa com quem ela está. Entendo perfeitamente que ela não consegue ver quem sou. Ela não consegue ver quem é também.

Disse: Você precisa viver isso!

Ela diz: Falaram que eu ia acabar ficando contigo.

Minha razão se demitiu!


quarta-feira, 20 de abril de 2022

Galega

(escumalha)  

O que inicialmente se escreve, por motivo de sentir-se escumalha? 

Não sei, sinceramente. Diz ser terapêutico, como se você colocasse para fora aquilo que, nesse momento de descrédito ao ardor, gostaria de se falar para a pessoa que ama. 


(abrasamento sucumbido) 

Não é fácil, e acredito nem mesmo ser possível qualquer tipo de descrição que se aproxime do estrago do desafeto sentido. Mas o faço, pela primeira vez na vida, ao perceber as aspas postas no vislumbre do amor e da família que, enfim, pareciam-me um cortejo da vida, incluindo todas as imperfeições que dão sabor às conquistas. A dor disso está em estado de despalavra, do indizível mesmo, e do mais instintivo sentir.  

Já havia sentido, mas não assim. 

Apesar de ter minhas incertas opiniões a respeito dos motivos que a levaram rejeitar minha pessoa, meu amor, e tudo o que sou, guardo-as para mim como um fármaco, até que a dor vire sua sorte. Mas acredite que, mesmo na aurora do término consigo ver, ao menos um pouco, o porquê do seu descrédito na minha entrega. Isso só compete a mim saber, e por mais estranho e conflituoso me pareça, não colocarei no texto. Amor e respeito são sinônimos. 

Sobra apenas, no regaço de quem sou, o aviso vindo da imagem que fizeste de nós, como amigos que transam de vez em quando. Você realmente me amou? 

 

(aspas) 

O amor duradouro apenas abre aspas. O passageiro finda, ao ser fechado unilateralmente. 

""Amor... - "amor".   

Para isso, olho, e tento conversar com minhas emoções ao vasculhar o que me levou a ser isso que sou hoje, e mais, entender a ofensiva que o sentimento de fracasso tem me feito passar. Declaro abertamente minha dor, entendendo que não há nada a se fazer. Não foi eu quem fechou as aspas. Da mesma forma, não sou, e nunca serei impelido a mudar qualquer escolha da pessoa que amo. Respeito sua escolha e peço que respeite minha dor. Sabe-se lá o que germina disso. 

Certo que você não imagina como é a rejeição de um homem aos 45 anos, dado aos caprichos do amor, jurado solene, de fervor sincero, empático, admirado, fiel e disposto.  

Tolo. Rejeitado. Roupa de varal, que se lava novamente em razão de chuva. 

Mas isso, minha linda, não cobro de ti, e nem teria como. Sei o meu lugar, assim como sei quem sou. Escrevo para que possa, eu, proteger-me da imagem de coitado. Não sou, e nem quero ser. 

Escolho ser feliz todos os dias, mesmo nos destemperos de uma pessoa comum que sou.  

 

(Comum) 

Sabe, acho realmente que o meu lugar em sua vida nunca teve destaque. Acredito na sinceridade de suas palavras ao falar sobre meu trabalho, mas só. Quem sou para você, a meu ver.. e sentir.. nunca me pareceu ter sido levado a sério mesmo. Nosso lugar comum sempre foi seu próprio lar, sua carreira, sua família...você. Mas veja, isso é uma impressão minha, e de forma alguma estou lapidando como verdade, falo apenas a partir do que sinto, e do que possivelmente é. Do lugar de meu impreciso sentir. 

O que vivo em meu apartamento, e toda a sincera e frágil situação que construo minha vida, não parecem lhe importar. Isso falo a respeito do que sinceramente vivemos. Do meu preciso sentir. 

Nunca tive olhos para outra pessoa. Não sou canalha, infiel, insensível, mesquinho, manipulador, indiferente, injusto, avarento, acomodado. Acredito em nossa história, que no seu pedido de tempo, foi arquivada sem prévio aviso. Em meio a todos os sinais de que me davas, não consegui que você me visse, realmente. 

Cozinho bem, sabia? Para mim, o ato de preparar uma refeição em família não se resume a um prato, mas a uma celebração a vida. Não tivemos esse tempo. Tenho ambição também. Sou pão duro, mas gosto de gastar com coisas boas, que duram. Sou organizado, em casa, mas não tivemos chance de compartilhar isso. Tentei sempre respeitar seu espaço, seu lar. Talvez você quisesse que eu virasse tudo ao avesso. Talvez não. Amo a vida em casal. Aceito mudanças, mas tenho o defeito de nunca me opor a nada. Isso, também, não tivemos a chance de compartilhar, exceto o defeito citado. Às vezes acho que compartilhamos mais defeitos do que qualidades, por nunca termos morado juntos. Chegamos a cogitar, até, mas nunca iria propor tal mudança a não ser que você pudesse sinalizar positivamente. A meu ver, para você soava como uma heresia o fato de um dia dividir, além da cama, um teto. Gosto das conquistas feitas a dois, mas o máximo que chegamos a isso, foi a compra de uma mistuqueira. Que você pagou, é claro.  

É preciso franqueza, Linda. Não se trata apenas da rotina, mas o que floresce nela. Escrevo por não poder dizer que seu doutorado foi uma conquista nossa, não sou demente de achar isso. Quero apenas que saiba que senti tamanho orgulho, que o percebi como fidedigna imagem da família que batalha, conquista, e partilha felicidade. Obrigado a vocês por esse momento! Você e Alícia 

A felicidade de ver a filha se emocionando com a conquista da mãe, foi um presente da vida rotineira que vivemos juntos. Fiquei encantado ao viver esse incrível momento. Obrigado mesmo! Senti-me família. 

 
 

(Alícia) 

Como disse, lá em cima, sobre como nunca senti isso assim, é algo que levarei em minha caminhada, como pessoa, por almejar ser melhor como ser humano a cada dia.  

Durante o tempo em que estivemos juntos, senti uma mistura de euforia, por ter encontrado a vida de vocês, e cuidado, para que eu pudesse não apenas manter, mas contribuir para a felicidade de ambas. Pulsa em mim o coração desajeitado de um pai, até agora. Mas acho que nunca conversamos sobre isso, né? Não assim. Aliás, ainda não falei com a Alícia por respeitar seu tempo, e por mais doloroso que me seja, gostaria que permitisse isso em algum momento.   

Estava tão cego quando me pediu um tempo, que só senti a dor completa entre um café e outro, em que você falava da Alícia. Desculpe, mas tenho que falar... isso foi cruel!!! Talvez você tenha feito sem intensão, mas o que queria?  Esperar que entendesse tudo o que eu sinto, o laço que estava sonhando como família? Mas acho que, nesse sentido, a culpa foi minha por não ter passado mais tempo com vocês, ou não ter percebido o lugar que me colocavas. As vezes parecia que estava invadindo o espaço de vocês, coisas de mãe e filha que tinham que ser resolvidas. Muitas vezes me coloquei nesse lugar, mas sem insinuar qualquer interferência na sua educação com a Alícia. Talvez pudéssemos ter tido uma conversa assim. Ou talvez isso nunca esteve em questão para você. 

Alícia tem opinião, sonhos, talentos. Sua filha é sensível, única, inteligente e generosa. Uma pessoa do bem que aprendi a amar, especialmente na forma em como segue o curso de sua vida, como vê e sente o mundo tendo como principal referência, sua mãe. Admiro vocês por isso. Amo e respeito! Inclusive o fato de ter consciência que ela tem um pai, e o ama também. Nunca pensei em ofuscar esse lugar, pois a respeito e admiro. 

Talvez saiba agora o motivo de te chamar de minha linda. Não se trata apenas da sua aparência, mas da força que você é realmente, e da sua capacidade de transmitir isso para a Alícia. Obrigado mesmo, por ter me acolhido em suas vidas.  

Meu coração partiu-se em três. 

Empatia não é algo que se escolhe ter. Se tem.  

Da minha forma, sempre as amarei como uma família. 

 
 

(O que você parou para pensar?) 

Sou uma pessoa espiritual, e, pelo que vi, você também. Não muito, mas é. Creio em uma força do bem, e me moldo por isso. Rezo e tenho fé. Peço discernimento e proteção para mim e todos(as) que me cercam. Ultimamente tenho rezado mais por ti do que para mim mesmo, o que implica reconhecer, também, meus defeitos. Rezo por eles também, inclusive aqueles que não compreendo ainda, pois acredito em que se crê, e como isso nos transforma. Sou fiel, e gosto de ser assim. Já te falei que cozinho bem? 

Gosto de bom bate papo, e isso acho que vivenciamos de alguma forma. Inclusive é algo que motivou e deu crédito ao amor que sinto. Abrupto ao corte pelo tempo que pediu. Reconheço que nossa necessidade de jogar papo fora, sobre coisas aleatórias, também é válido, como se nossa adolescência ou juventude fosse melhor em Balneário ou Itajaí, por exemplo. Ou ainda as recordações da playlist anos 80 e 90. É um tempo de experiências saudáveis de se recordar. Conseguimos perceber quem éramos e quem somos hoje. Também quem poderemos ser. 

Mas acho que, sobre o futuro, pulamos o texto.

Gosto de mudanças, e apesar de ser uma pessoa rotineira, me disponho, espero, estar preparado para tal. 

Apesar de parecer bem reservado, mudo radicalmente e encaro as consequências, a não ser, pelo fato de não saber muito bem como fazer isso direto. Mas eu aprendo. Pelo menos burro acho que não sou. 

 
 

(nós, ou eu e você?) 

Sinceramente, não sei. Não sou niilista nem por força da realidade, mas minha atual percepção me conduz à um cenário sombrio sobre nosso relacionamento. Tenho consciência que isso é passageiro, mas não controlo a dor que sinto, apenas aceito e gesto.  

Linda, o ímpeto da sua vida já sinalizou sua escolha sem rodeios, mas não julgues uma pessoa que não teve a oportunidade de viver uma vida a sério. Entendo perfeitamente se não é, ou nunca foi, sua intenção em partilharmos nossas vidas. Seja clara quanto a isso, eu aguento! 

Mas se foi sua intenção repensar, saiba que, em mim, muita coisa tem mudado em relação a nós. 

Desejo que possamos ""Amar... 

Te desejo, na sinceridade que conduzes sua vida, toda a felicidade do mundo. Comigo, ou sem. 

Me permito, na verdade, à toda felicidade do mundo. Contigo, ou sem. 

Amo-te com tudo o que veio junto. 

E até que a ondulação do desamor se acalme, amo-te com tudo o que se vai, também.