domingo, 14 de novembro de 2010

Seu Coiso, político de respeito e família



Pobre ser das insígnias e dos diplomas que não o fazem ser quem é pois endossaram-lhe a visão, e essa nunca mais será a mesma. Mutilado pelo cortante rio de correntes literárias e políticas esvazia-se aos poucos de seus mundos imaginados no eu coletivo. Empobrece a si mesmo com tanto dinheiro. Perde-se na correnteza material imaginando-se gavetas ou louças. Sendo apenas material exprime-se pela terra em busca de outros eus de ouro; aprende línguas para poder entender não os outros, mas os sentimentos outros das coisas, sendo essas ele mesmo. Diplomado cego e sem escuta, ouve apenas a si e seu estar no material. Desliga-se.

Tratado por Seu Coiso, o pobre homem de quem se conhece realmente pouco, pois sua história social fora inventada com preponderância e enquadramento ético, dentre os quais, a principal habilidade, a quão mais desenvolvida seja lhe dará margem ao rio de correntes, é ouvir e não escutar. A escuta é o aceite da expressão máxima do corpo de outrem quando esse fala enquanto eu coletivo: Geralmente são pessoas que se sentem mais cheias de vida do que de roupas.
No ouvir não há ecos, distorções, não há sequer som...não há efeito fora de si.

- Como Seu Coiso, político de respeito e família é muito ocupado não poderá atender-lhe esta tarde.
Então o pobre homem, com ajuda de alguém-filtro-pago... mastigou sua quase interrompida comida temperada a cerâmica e inox. Estático, mas vivo.

Quando vai pelas ruas suas, na cidade que ajuda a criar como parte de eu que não se dá muita importância, põe-se por vezes em posição de ouvinte como um santo de madeira desprovido de escrúpulos e julgamentos. Ouve apenas a si, e não o que lhe toca os pés.

Decide então mudar a cor de um edifício ou fazer um buraco qualquer na cidade alegando seu ligamento afetivo e comprometido para com os quais que passam em suas ruas. A cor, que quando por lá passar já estará desbotada, abasta seu Coiso pelos olhares mil dos que passam por suas ruas, tendo-os. Gênese de febre acalmada por um comprimido-ato apressado, impaciente, desbotado.

É na cidade costeira, de buracos e cores para alienação, que vive o homem/recibo. Vestido de verde ou vermelho, dependendo da torcida (ensino fundamental no futebol), dá-se a cada folha arrancada no fim do mês.
Ao cabo do ser Recibo, com canhotos de meses salteados, compra novamente seu lugar, à matiz e ao declive por € 3,50 nas finanças. Com o que ganha pode gritar no estádio a sua preferência mono ou no máximo tricolor. E na multidão em vozes ouve só a si.

As pessoas são calçadas mortas da cidade de seu Coiso, andam apenas com um olho deslumbrado pela cor e o outro temeroso ao buraco.

Seu Coiso, homem fitoso inaugurou a creche de um conjunto habitacional cuidando para que o fotografo não visse a infiltração d´agua assim como cuidava da fita com a tesoura.
- Inauguro agora!.... mais um depósito de eus indesejáveis! (segue-se o som de palmas-calo)

Dos bailes que promoveu lembro da frase cantada "Taminãmina ê ê, uaca uaca êe êe" televisionado com cantoras vestidas em trajes africanos imaginados.
Carnaval não. Não há carnaval na cidade pois seu Coiso tem economizado para levar eletricidade, saneamento básico e um centro comercial para restringir a gravitação de seus eus aos bairros sociais. Por isso não sobram recursos para que o transporte público chegue até lá. Ilhas de professores mau pagos. Exílio de cultura docente.

Sobre a educação musical o manto das canções que gosta de ouvir e oferecer. As que falam das coisas em vídeo clip, as militares e algumas do século XVIII. Todas cantadas, pois a música por si só não presta.


Para o clube de escoteiros ofereceu uma horta. Essa para exploração e sustento.


Para o asilo um ecrã de 52 polegadas e a garantia breve de fraldas e remédios.



São para si mais fitas.
Tão somente.



Talvez a roupa que se lave em razão da chuva.
Sem mais.



Aposta no futuro que constrói enchendo-se em placas e cartazes para que não o possam ver. Com o conceito de Medicina Oriental em alta, facilita a entrada de quem a saiba mesmo que só teoricamente. Tão visionário e moderno quanto a sabor de pastel de natas com catshop.
As pessoas da cidade, desprovidas de "serem", tornam-se relativas e agem conforme foram ensinadas a se portar em determinadas situações coletivas. É a imagem de um ensaio dirigido por seu Coiso. Assim ele pensa o futuro.

Às crianças, exílio de cultura discente.

Eis a lacuna mote que seu Coiso gosta de se empenhar.



ENCONTRO NACIONAL DOS PRODUTORES DE TINTA E PÁ.

No anfiteatro honorário da Praça do Comércio reuniram-se hoje grandes nomes da economia nacional. As pessoas saíram em passeata por motivo da falta de tinta no mercado. O presidente da empresa TINTA-PÁ, durante acordo das condições próprias propostas ao Estado prometeu rever o abastecimento. Ao sair sorriu dizendo "Eu sou as cores!".
Seu Coiso é então a cidade aborrecida.
No pátio do colégio não há árvores exceto a de garrafas pet feita para comemorar o dia do meio ambiente no ano passado. Em frente à escola um supermercado de grande apelo popular torna-se ponto de encontro de pais e de reencontros precoces das crianças, tudo é, depois das 17:30. Foi reformado recentemente e até o ar é condicionado.
São buraco e prédio e as vezes calçada.


AS PESSOAS E A CIDADE ESSA

Quando lançam seus olhares para o céu apenas vêem solas, inventam-se sociais à sombra do faceboock. Pois já não há tempo para lugares de conversa. Vivem algures onde são doutores em si. Nascem universidades de seleção financeira que sabem a Castas. Lá, os professores torneira. Não sabem se o que deitam fora será para apaziguar a sede ou lavar o chão...não se importam.

Enquanto a música jazz, fado jaz.

Filmes só Norte Americanos, tristes e aborrecidos. E todos se propõem em ser.

Pratos de bacalhau com nomes em inglês.

Água

Na viva água, o enlaçe de não ser nada além do que se é, o manifesto da sua vida invisível e transformadora. O molde traçado pela taça fosca a espera de transformar-se no percurso da sede, da terra ou da boca, no caule ou no corpo. A angústia de não ser sumo, de não ter propósito senão o saciar de algo ou alguém em conferencia sobre o mar, estado outro por si tão vivo de outras vidas. Amarga condição de não sabor por não ser fruta, doce à ilusão líquida que bem o fez surgir da flor. Tristeza mágica que limpa as cores mas não vê a tela empurrada por uma cor qualquer, ausente em si. Revolta insólita na transformação do seu estado agitado pelo fogo, a sua fuga ao ar que dá com a cara na janela e imita a lágrima. Serena condição a espera de ser útil, ingratamente separada do poço/prisão/casa.