Desnudei em outono
meio a folhas almaço
e escrevi minha primeira carta de amor
aos 9 anos
com ela enrolei uma boneca de plástico
igualmente desnuda
diante do não
assoreei meu sorriso
com lágrimas em glissando descendente
os pés para os calcanhares
a cabeça para para os olhos
e entre isso
nada
*
Naquela árvore ao lado da garagem azul
que dizia a mãe se tratar de uma "Lágrimas de Cristo"
e o pai "Espada de São Jorge"
deixei o chão para as flores
soltei pipa aos fios
urinei formigueiros
queimei embalagens vazias de Ki-Boa
e em ato desesperado
enterrei minhas tampinhas de fanta argentina
sabor pomelo
raros carros de corrida
*
Nos uniformes do colégio Médice
a inutilidade das alças nos pés das calças
que sofriam de tesouras
ainda no início do ano
por isso, e só por isso
nunca pude tocar na banda marcial
do sete de setembro
por isso, e só por isso
virei músico
que toca descalço
*