segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Paisagem Sonora: Rua Nossa Senhora Alumiadora. (parte 2)


Bom dia Seu João.
Bom dia Seu António e Dona Giorgina. Já usamos a Criolina.
- Bom dia Dona Fátima! Tud drêto? 

- O ténpu ka tá bon! 

Por volta das 10, 10 e 30, começam a chegar os carteiros de ofertas de viagens, supermercados, aparelhos auditivos, pizzarias, Mestres de Angola; os vendedores de telefonia e serviço de televisão; o Reino de Deus…e finalmente os carteiros(as).
A campainha do primeiro à direita é a primeira direto. Está na hora de começar a pensar no almoço.

Antes disso, na Vila Rodrigues, as evangélicas conversam muito sobre assunto nenhum; o eco das notícias da Record e as fofocas do culto.

Um chá.

E penso no almoço.

Paisagem Sonora: Rua Nossa Senhora Alumiadora. (parte 1)

Desce o vizinho do quarto a andar pelas escadas de madeira, e o som das unhas de seus dois cachorros parecem óleo a fritar crocante.

Ás oito e meia, o grito repentino, preciso, pontual.

- oooooooOOOOOOAAAAAAAAAaaaaaaaa…....

De manhã adoro fazer café pro meu amoréco. O fogão, a louça, o leite, o café, os pães, queijos e charcutaria. Manteiga.

Os vizinhos apressam-se em ir trabalhar, sempre aos mesmos grupos. Dalguns, somas sonoras de seus problemas pulmonares. O do Flufi.

Comida "pros gato, água pro Tigrão…!

Mesmo de manhãzinha, especialmente terças e quintas, a… 

- Loteria é pra hoje. É pra hoje! Quem vai querer? É pra hoje. É pra hoje! (2X).

O senhor cego.

O trompete do regimento.

E com as aulas, a campainha da Escola Natália Correia. Períodos regentes, períodos Aec´s.
E o som:
Fatias de silêncio - campainha - recheios de esperança - campainha.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Oração para Santo António de Lisboa

Ó Santo da cidade, sei que estamos no início de Setembro, e que suas férias, que iniciaram em agosto, ainda vão até o dia quinze corrente; mas se tiveres tempo de ver o e-mail talvez possa nos ajudar em algumas coisinhas aqui em Lisboa.
Se faz favor!
Poderia a Vsª Santidade ligar para Shiva pedindo para que transforme o Tejo em Ganges no Verão? é que é muito difícil andar de transporte público no Verão multicultural geograficamente católico.
Ainda, se for apanhar o autocarro 30 PICOAS, dê uma parada em Mártires da Pátria e faça uma visita ao Dr. Sousa Martins; diga para que veja mais os noticiários da TVi, talvez assim ele queira apenas velar pelo São José, o Hospital,  deixando o resto da cidade para Voltaire.
Peça ajuda para Iemanjá levar uma grande onda e limpar todas as butucas de cigarro que estão na Boca do Inferno, em Cascais. Com aquela sujeira toda deveriam colocar o nome no plural.
Para o bairro da Graça podes pedir ajuda à Chico Xavier, pois a população viva anda se confundindo com a morta. Dá-me medo o Pingo Doce; especialmente na saída.


Enfim…Por favor! faça as pazes com Santo Expedito, diga para que ele manere na concessão de pedidos pois anda muito caro tomar vinho em Alfama, Castelo e Baixa. Mas não fale nada sobre o Chiado, sabes que aquilo é dele.


Amém

sábado, 3 de setembro de 2011

A Via da Arte

A Arte vai à mão donde sequer tem-se um fim ou começo. Dito como empregadora da paz, a educação passa por vilã em tempos burros; claro que há diferenças entre educados, não educados e mal educados, sendo que esse último pode ser enquadrado em ambos os primeiros. Inteligência não é memória de conteúdo, é o que se pode transformar com o conteúdo que se sabe. Muitos sabem disto e isso significa que ainda há inteligência e ela é muito lucrativa; a inteligência então passa para a esfera corporativa da vida. Os que não sabem aprendem conteúdos para o trabalho de produção, para o atendimento e a matemática. O "resto" é tratado como tal e aí se inclui a arte. Não serve de nada. Sou então igual a você no que se entende por cidadão, depois vem os artistas e suas tretas, cambada de maconheiros; menos os maestros, estes são loucos-bobos-da-corte, e faz bem à imagem tê-los como amigos. Assim temos dois universos, parafraseando o modo de vida nipónico. Só que cá são todos colocados em dimensões de burrice, pois a arte é burrice se for entendida como complementar por completamente todos, produtores de suas reflexões tendo o homem como parte transformadora da natureza que se inclui, "homem e natureza", ou "natureza do homem". Nunca se é um todo, sempre uma parcela.
Quando nada vêm à nora o pensamento engenha-se. Reler também é bom, mas antes que seja vidro que plástico…transformam-se em arte ou pá de lixo.
O frio calou-se quando interrogado pelo saber, fez sua casa calafetada e de lá não saiu por medo da lenha. Assim foram anos no Brasil. Nessa contradição, produziram-se empadões artísticos. Para se compreender isso temos o curso de Estudos Artísticos na Universidade de Coimbra. Ninguém toca nada, adoram fotos de África, idolatram o teatro passado sem pensar no novo (que lealmente o seja, amém!) e por fim assistem filmes Norte Americanos tristes e aborrecidos (como já foi dito). Ah!, e se acham, claro.
Voltando à dimension sociale, me encontro com a arte apenas no espaço temporal pestanejado, e aí encontramo-nos todos. Fora isso apenas cangalhas nas costas de quem não usa a inteligência como arte, o tal dar-se a conhecer.
Então comecei a ler um livro sobre o conceito Arteducacional de algum Doutor no assunto. Sempre aprendemos com D(d)outores. Quando comecei a ler entendi sobre a construção-transformação da percepção do belo pelas crianças, defendido por muitos autores como capacidade promotora de reflexão criativa, sobre o jogo lúdico, estética, fruição, audiação, balbucios artísticos, fala e canto, expressão e educação; e de tudo acredito apenas no fato das crianças não distinguirem a fala do canto nos primeiros meses de vida. O resto são letras; a poesia é a lava da natureza de nossa infância. A pintura é o risco de giz no céu como afirmou um aluno de 4 anos ao ver uma nuvem de avião; a dança e o trabalho se apreçam e as pessoas adultas nada mais são que trabalhadoras amostradas que dançam, mesmo sem saberem o que é trabalho. Aí vem a palavra e o sentido das coisas passa a ser classificação das coisas, e elas são desnecessariamente muitas, pois a palavra tem suas redes de sentido e muitas vezes fogem a verdade. Desta artimanha resulta a profissão de advogado. Em Itajaí o ato de chutar árvores é comum, de lá caem advogados ou contadores; os outros que estudaram na UNIVALI estão empregados ganhando ou perdendo fortunas.
Grandes são os homens que sabem burlar o tempo no momento pestanejar enlevando o mundo visto sem as razões escritas; nem sempre são apalavradas, inclusive na poesia.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O primeiro dia de um bebé

Aquele que chorava sorriu quando percebeu que o dia também era noite e entendeu o amanhã.
O que sorria chorou, pois viu o homem tendo que lidar com diferentes sentimentos pela primeira vez.

sábado, 21 de maio de 2011

Financiando as Finanças


Dois olhos são para lágrimas diferentes:
Um chora a alegria de transformar a vida de um cidadão pela educação;
o outro pela tristeza do salário que se ganha por isso.
Um pela possibilidade de desenvolver-se, estudar, formar uma família;
o outro pelas possibilidades serem castradas à recibos verdes.
Um por se estar dentro de um país espetacular e entender que as culturas transformam-se, por todos, imigrantes ou não;
o outro pela incoerência política promotora de imobilidade cultural.
Diante o Estado Português as pessoas parecem Tetra Pak´s com ouro dentro. E nem mais nos muros do artigo 9 se podem lamentar.

domingo, 10 de abril de 2011

Jazzul


Eu tenho o direito de tocar com meu baixo desafinado se assim o desejar. Posso também querer tocar desconsiderando as regras harmônicas e melódicas, ligando-me mais ao ritmo e encontros casuais de notas, como uma paisagem sonora. Por se entender apenas que uma paisagem existe pelo reconhecer do pensamento, uso acordes simples como pano de fundo. Petulante seria dizer que é uma espécie de nova harmonia, querendo eu lá saber disso. Julgo buscar cada idéia sonora segundos antes de lhes conceber, e acho o resultado mágico...um reflexo novo a cada música. Ainda duas faixas precedem Jazzul; são linhas apenas de baixo eléctrico, todas seguindo o instante criador, e, por vezes, escolhendo vários juntos. Mas ainda não nesta postagem.

Download: Jazzul

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

No Café antes das aulas no bairro de Benfica

Tem uns onde mais há
Cafés com água fria
Não esquenta o dia
Em mim apenas vento

Tem uns onde mais são
Chávenas de tristes conversas
Nem de música, nem de cores
Apenas casas e ruas

Modas no cabelo
Açucares medidos
Vida de entrecosto e pão
Cigarro e Camané

Tomo o líquido
Preto-translúcido-branco
Reclamam louças e fregueses
Derramam-se os mesmos prantos

- Travou-me a língua
Os meus pés;?!... embriagados
Esqueci-me como chego
Em pleno meio-dia (Lamentou o pensamento do senhor na mesa ao lado)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Do gato à Stockhousen

O carinho maior que se pode fazer a um gato é desarrumar-lhes os pelos.


Para que depois possa arrumar-se todo novamente.

Perceba se há comparação no movimento com Stockhousen, e tente compreende-los aos gestos. Chegue o mais perto possível de seu humor sorrindo ou chorando os seus.

Emudeça os seus pensamentos e Sê instinto.

E por falar em Stockhousen se eu fosse escolher uma trilha para o livro do desassossego seria Kreuzspiel.

Cada nota é um acontecimento acompanhado sem relação com a próxima. O faz de propósito para testar a velocidade do raciocínio. Acessível, mas não completamente.

Vaidade musical no seu sentido contrário é apenas um capricho que faz dele o único entendedor daqueles eventos sonoros.