sábado, 31 de maio de 2008

Morada


Não existe, essa música...ela não existe. Contudo, volto à procura, tento preencher as lacunas de anos de audição passiva que postam significativas formas em hertz....passeios que transformam o sentido por anos a fio de induções construídas por imagens móveis do móvel mais apreciado das casas, não, não foram os aparelhos de som, pois, na melhor das hipóteses, o mundo de sons já tem seus significados pré definidos como trilhas de algo ja visto.
24 fev 2008, 00:00

segunda-feira, 31 de março de 2008

Mel


Sim, logo vinha ela imersa no seu desinteresse aparente como se, pela rotina, não fosse possível demonstrar afago. Porém, apesar da religiosidade de seus atos, algo sempre foi novo, desejoso como a inquietação de saber o que se tem escrito pela capa. Não pude nunca entender completamente. Acho que, por não ter a nossa preocupação racionalizante da fala, os cheiros eram sítios demasiados experimentáveis de coisas fora de seu mundo, bem como toda a nuance que ela tão bem vasculhava em movimentos quase invisíveis. Por fim cedia ao desejo. A primeiro ia-me ao peito cheirava-me os lábios, pois sim eu também estava em nossa rotina. Cheirava-me os dedos, ficava a perceber por mais tempo quando por vezes havia preparado algo com mostarda e rúcula, às vezes tabaco, ou, na falta deste, o convite com um pulo impaciente em direção ao toca discos. Quanto prazer nessa companhia, convite ao pensamento, reflexões do mesmo mundo em dimensões distintas, porem com as mesmas prazerosas sutilezas.
A espera. Ouvir esse cantar dele e dela, pois que sentido tem a fala, o que é fala? O respirar fundo daquele cheiro forte e relaxante de fim de dia dentro de uma imobilidade artística. Por vezes um distraído comentário rouco, ops..., não estou aqui. Ao abrir a porta, via, como por muitas vezes também sentia, o desejo da vitrola. Ah! novamente os cheiros, desta vez das capas velhas, aromadas a cebo e nostalgia. Sem a fala - pra que fala- havia uma diferença enorme entre os sons do ecrã e do vinil. Chamava-me a atenção com os agora freqüentes comentários roucos. Pedia-me sua capa, ou música, ainda não sei bem. Era Chico Buarque. Por fim depois de diversos passeios rotatórios dentro de alguns centímetros quadrados disponibilizados pela embalagem arranhada de tantas sessões como esta, se deitava e ouvia, ou melhor, ouvíamos nossas canções preferidas.