sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Debaixo de goteiras e asas


Ando na mão do vazio
e do erro ortográfico
sob nuvens que roubam a noite
e devolvem com chuva
a força do cigarro
entre os ocos da cultura.

A marcha é lenta
fora do conforto
térmico da colcha
em que sonho.

Desconcentrado 
e de estado frágil,
com sapatos velhos 
e idade nova
não acompanho o corpo 
senão chateado,
..  ..  ..  ..

rompo o horizonte curto 
da avenida predial
sem nada me dizer.

Ainda não aprendi a dança
da formatura embolorecida
de meus amigos, 
que vomitam louvores e dinheiro
em naus de bandeira americana.

Não me acostumo mais ao açúcar
nem à carne salgada
nem a nada.
Tudo é caro na carência
desapercebida da palavra.

Gravito ausente de centro tonal
vendo na morte certa das arvores 
ao lado da casa de minha avó,
a fuga antecipada dos pássaros ressentidos
por maldade às suas memórias apagadas.

Voem para longe do meu queixume,
que eu vos invejo do chão
debaixo de goteiras e asas.